3 de agosto de 2007

Devaneios de Verão

Durante estes últimos dias, talvez por andar a um ritmo mais lento, reparei com mais atenção nas pessoas que se encontram ao volante. O carro é como uma casa em ponto pequeno. É frequente ver alguém a comer no carro, a pentear-se, a dançar ao ritmo de uma qualquer música. Eu própria, sim, sou pessoa para beber um iogurte enquanto amongo no trânsito, a climatização do carro é perfeita para secar o cabelo no Inverno, trauteio as canções que ouço na rádio, tenho a bagageira com tralha, etc., mas ao menos não tiro ranho do nariz ok?

Melhor que apanhar alguém a cantar a plenos pulmões uma qualquer música da Celine Dion, só mesmo ver os condutores a gesticularem uns com os outros. É óptimo! Digo isto porque há uns dias eu fui uma das comunicadoras gestuais e, imagino que quem assistiu à troca de insultos silenciosos, tenha adorado, pelo menos eu ri-me logo depois de ter feito figura de ursa. O episódio decorreu mais ou menos desta forma:

1.º Eu com o pisca e a marcha-atrás posta, pronta a estacionar, vem um esperto e mete de frente, ignorando a minha sinalética;

2.º Dou um pequeno toque na buzina para acentuar a minha presença (como se o estar no meio da estrada, com pisca e marcha atrás não fosse o suficiente), a buzina é ignorada;

3.º Avanço sem medo para a buzina e faço ouvir um claro FONCCC FONCCC despertando "finalmente" a atenção do outro condutor;

4.º O outro interveniente reage mal fazendo o já internacionalmente conhecido sinal da mão que consiste no juntar do polegar aos quatros dedos restantes, como se estivesse a fazer uma imitação de um fantoche a falar, acusando-me de não ter feito pisca;

5.º Eu nego com um abanar de cabeça veemente a falta de pisca, acenando afirmativamente e fazendo acompanhar com novo sinal de marioneta;

6.º A resposta que ele me dá é que pensou que me ia embora (a marcha atrás posta deve tê-lo levado ao engano certamente, não era explícita), e demonstra-me o que pensa batendo com um mão repetidamente na outra, mostrando que eu estaria a dar de "frosques";

7.º Nego a minha intenção de abandonar, fazendo um gesto com o braço para trás, para dar a entender que tinha a marcha-atrás;

8.º Ele nega ter visto, apontando com o indicador para um dos olhos enquanto gira a cabeça no sentido da negação (pena não ter enfiado o dedo no olho enquanto o fazia);

9.º Eu reajo com uma gargalhada silenciosa atirando a cabeça para trás, voltando a fixar o retrovisor e passo com uma das mãos à frente da cara repetidamente, dando a entender que deve estar ceguinho;

10.º Ele coloca as duas mãos no ar, barafustando mas dando a entender que vai sair, tira o carro, coloca-se ao meu lado mas eu esboço novo sorriso irónico e percebemos ambos que, se trocássemos alguma palavra ofensiva, iríamos estragar o belo diálogo gestual levado a cabo, por isso continuei a manobra e estacionei, o outro condutor abalou e, de repente revi a figurinha triste que fizemos e ri entusiasticamente durante uns minutos.

Há ditados parvos, mas o que diz que "um gesto vale mais que mil palavras", pareceu-me fazer sentido.

P.S. Que sorte ele não ter saído do carro com um taco de basebol na mão...

4 comentários:

peter disse...

Está uma história gira mas.... FONCCC FONCCC?????

lol....

Paulete disse...

Sim, desde quando é que Piii Piii pode ser uma buzina para levar a sério? lol

Padeiro de Serviço disse...

"P.S. Que sorte ele não ter saído do carro com um taco de basebol na mão..."

Isso é que é mesmo sorte!! Não convém provocar muito os outros condutores...nunca se sabe os malucos que estão do outro lado!!

Release me disse...

Bem, estou a imaginar a cena toda e a rir-me que nem uma desalmada!! lol